BRASÍLIA - O PT já admite que a presidente Dilma Rousseff pode não vencer a eleição de 2014 no primeiro turno, ao contrário do que previa o marqueteiro João Santana. Proposta de resolução levada ao Diretório Nacional, no sábado, diz que o partido enfrentará “intensa luta política e ideológica, incluindo aí dois turnos de eleições presidenciais”. Para os petistas, é preciso que a autoridade de Dilma seja “preservada e defendida” com mais ênfase porque os protestos de rua geraram uma “nova situação política”.
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Em debates internos, os petistas, ao avaliar o significado dos
protestos de junho, reconheceram “graves equívocos políticos na prática
do PT” e a necessidade de “reorientação” e “reconstrução das bases
sociais e dos vínculos populares” do partido diante dos “sinais de
fadiga da velha ordem institucional”.
“Sabemos (...) que, para estar à altura destes desafios, nos caberá
analisar o novo quadro, reconhecer com humildade os erros cometidos e
reciclar nosso programa, estratégia e condutas”, destaca o documento.
Os rumos da economia, destaca o PT, merecem atenção especial. “Até
porque a redução do crescimento incide negativamente no ambiente
político e social”, diz a resolução.
O texto ainda não foi aprovado. A corrente majoritária do PT, a
Construindo um Novo Brasil (CNB), está rachada e não houve acordo para a
votação da resolução, que ainda pode ser alterada e só passará pelo
crivo da Executiva Nacional em agosto. As divergências foram acentuadas
com pressões de alas à esquerda do PT para que o tom de críticas ao
governo Dilma – que enfrenta dificuldades na economia e queda de
popularidade – fosse acentuado.
A versão preliminar da resolução afirma que o principal porta-voz da
“trava ao desenvolvimento” está nos monopólios de comunicação. Além
disso, os petistas veem uma “barricada de interesses” – formada pela
“hegemonia conservadora sobre as principais instituições do Estado, como
Congresso e Justiça” – erguendo obstáculos para a ação da presidente
Dilma.
Eduardo Campos. Em outro documento, intitulado “O
Brasil quer mais e melhor”, a chapa que apoia a reeleição do deputado
Rui Falcão à presidência do PT pede cuidado com os “porta-vozes dos
capitais” na disputa de 2014. Mesmo sem citar o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), o texto faz referência indireta a ele
ao argumentar que “os neoliberais e neoconservadores” querem outro bloco
social no poder e podem buscar novas opções.
“Seus porta-vozes, hoje, são o consórcio DEM, PSDB, PPS, o que não
quer dizer que não busquem alternativas futuras para candidaturas
avulsas ou de partidos que abriguem seus interesses”, ressalva a tese do
grupo de Falcão. Provável candidato à sucessão de Dilma, Campos adotou o
slogan “é preciso fazer mais e bem feito”.
Os dois textos do PT combatem a chamada ditadura do marketing
político e eleitoral. A chapa de Falcão faz uma autocrítica das ações do
PT e diz que o governo Dilma ainda não cumpriu todas as tarefas. “Tudo o
que foi feito não é suficiente para colocar o universo das políticas
públicas em diálogo permanentemente fértil com as grandes causas de
nosso tempo”, destaca o documento.
A tese foi apresentada pela CNB, tendência do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em conjunto com as correntes Novo Rumo e PT de
Lutas e de Massas (PTLM). As eleições que vão renovar a cúpula do PT
estão marcadas para 10 de novembro. Falcão é o favorito para continuar
no comando do partido.
Correção de rumo. Embora a tese do grupo trate Dilma
como “uma estadista, uma líder que tem ouvido o País” e destaque que o
Brasil viveu, nos últimos dez anos, “o melhor momento de suas políticas
públicas”, há apelos para correção de rumo. “É preciso discutir os rumos
do desenvolvimento sustentável que defendemos”, diz trecho do
documento, enfatizando que a política econômica deve “combinar”
distribuição de renda, equilíbrio fiscal, controle do câmbio e
“crescimento com condições de ampliação do financiamento do Estado”.
Se Falcão ganhar a eleição, o documento servirá de parâmetro para a
reeleição de Dilma. “A distribuição de renda e o acesso ao consumo não
bastam para impulsionar a emancipação das pessoas, construir um
desenvolvimento em bases sustentáveis e formar maiorias que sustentem as
reformas sociais e políticas defendidas pelo PT.”