O racismo é repugnável! Mas saibam os mais novos que em tempos não muito distantes fazia parte da nossa sociedade nortense. E quando falo no passado não estou necessariamente falando de muitos anos atrás, não! Na década de 80 ainda se percebia a rejeição dos negros no nosso convívio. Portanto há 30 anos um pouco mais ou um pouco menos, talvez.
No Clube Sócrates, por exemplo, para ser sócio o cara não precisava ter uma ficha corrida exemplar e nem mesmo um atestado de conduta, mas uma coisa era certa: se fosse negro ou descendente de primeira ou segunda geração, pronto, estava barrado. Pessoas que viviam conosco como irmãos, iam as nossas casas e nós nas deles, comemoravam seus aniversários e a festas religiosas junto conosco, mas entrar no Sócrates de sócio, nem pensar! Pessoas como o Dadinho, Zé Mário, João Roberto (Pica-Pau), Zé Bongalhardo, João Waldir Roig Nascimento, Bonaô, João Pedro Roig e tantos outros não podiam entrar no clube. Absurdo! Absurdo! Absurdo! Como se os sócios do clube tivessem sangue azul. Nesta miscigenação, qual de nós não tem um pezinho na áfrica? Nos salões do interior não era diferente. Na Barra, em Bujuru, na Capela, no Estreito, em todos os lugares tinha uma parede no salão dividindo-o em duas partes, uma para os brancos e outra para os negros. Que coisa feia e lamentável! Mas era assim mesmo!
HISTORINHA
Certa vez num baile na Capela do Retovado o Charrão, filho do seu Firmino, (vou revelar o nome pra não dizer que estou inventando), perguntem a ele se não é verdade, como era um rapagão e namorador, e a grande maioria das mulheres com quem se relacionava eram brancas, tentou entrar no salão no lado dos brancos. O porteiro mandou chamar o senhor Chafik Abrão que era o dono do local para resolver o problema: “Não, o senhor tem que entrar pelo outro lado, deste lado só entra brancos” O Charrão então sacou uma jogada e disse: “Senhor sabe porque a cor da minha pele é queimada? É porque eu passo o dia inteirinho na beira do mar, sou pescador, fico da manhã a noite na praia” – O Charrão como todo mundo que o conhece sabe, tem os cabelos lisos, bem lisinhos,. O seu Chafik olhou pra ele, acreditou na história e mandou ele entrar. No salão da Capela a divisão era uma cerquinha de madeira de forma que quem estava de um lado podia enxergar quem estava do outro. E a presença do Charrão no lado dos brancos intrigava os outros negros que não entendiam como ele tinha entrado daquele lado.Graças a Deus que os tempos mudaram, embora ainda lamentavelmente existam racistas enrustidos que se olhassem para seus passados e antepassados talvez tivessem sentimentos diferentes.