domingo, 9 de junho de 2013

Dops gaúcho ‘fichou’ o primeiro marido de Dilma, cujo nome não foi citado na biografia oficial dela

Dilma Rouseff

Em 14 de março de 1969, a máquina de espionagem da ditadura abriu uma ficha para “Dilma Lana Roussef Linhares” no Departamento de Ordem Política e Social do Rio Grande do Sul. Além de um par de erros –é Vana, não “Lana”; é Rousseff, não “Roussef”— a identificação trazia um sobrenome que o tempo apagou da biografia oficial da atual presidente da República: “Linhares”.
A ficha de Dilma é uma das 4,6 mil que o Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul catalogou. Digitalizado, o material foi oferecido à consulta pública na internet, neste final de semana, pelo diário gaúcho ‘Zero Hora’. Tomada pelo poder que detém no presente, essa Dilma de 44 anos atrás –“estudante” e “comunista”– mereceu dos espiões do Dops gaúcho um resumo mixuruca. Apesar disso, a anotação explica o sobrenome desconhecido:
“A nominada é esposa de Cláudio Galeno de Magalhães Linhares (vulgo Lobato), estudante da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG. Está desaparecida e é solicitado pelo SCI a sua prisão, é ligada à organização trotskista recentemente levantada em Belo Horizonte.”
Primeiro marido de Dilma, Cláudio Galeno, mineiro de Ferros, à época estudante de sociologia, participou de uma ação ousada: o sequestro de um avião brasileiro levado do Uruguai para Cuba. Na biografia oficial da ex-mulher, exposta na página eletrônica do Planalto, Galeno é tratado como um clandestino. Foram casados por dois anos. União formal, com registro em cartório. Porém…
O texto da Presidência ignora Galeno. Menciona apenas o ex-companheiro com quem Dilma teve sua única filha, Paula. “Em 1969, conhece o advogado gaúcho Carlos Franklin Paixão de Araújo”, anota a biografia. “Juntos, sofrem com a perseguição da Justiça Militar. Condenada por ‘subversão’, Dilma passa quase três anos, de 1970 a 1972, no presídio Tiradentes, na capital paulista.”
Quer dizer: em 1969, quando a turma do Dops imaginava que Dilma ainda era mulher de Cláudio Galeno, ela já estava noutra sintonia. A ditadura desbaratara em Belo Horizonte a organização Colina (Comando de Libertação Nacional). Dilma e Galeno tiveram de fugir. Ele foi escalado para atuar em Porto Alegre. Ela passou a esgueirar-se, clandestina, entre o Rio e São Paulo.
No Dops gaúcho, Dilma era a ficha número 25. Galeno, a 24. Ela não militava em Porto Alegre. Quanto a ele, na ocasião em que sua presença foi farejada na capital gaúcha, o codinome já não era “Lobato”, como mencionado na anotação da ficha. No final da década de 60, Galeno escondia-se atrás de várias outras identidades. Entre elas Ivan e André.
Procurada, Dilma não quis comentar o assunto. Galeno, hoje com 71 anos, vive na Nicarágua com a segunda mulher e duas filhas. Alcançado pelo telefone, rememorou nacos do passado. A Colina fundiu-se à VPR, dando origem à Vanguarda Armada Revolucionária, a Var-Palmares. Ele era um dos coordenadores da nova organização no Rio Grande do Sul. Mudava de endereço amiúde.
Passou uma temporada na casa de Luiz Heron Araújo, irmão de Carlos Araújo, o  companheiro que Dilma conheceria no Rio. Noutra fase, mudou-se para uma pensão no centro da capital gaúcha. Moravam no mesmo local outros militantes. Entre eles um amigo mineiro de Galeno e Dilma: Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento.
Súbito, sumiram no Rio de Janeiro dois militantes da Var-Palmares. Fausto Machado Freire e Marco Antonio Meyer. Para forçar os militares a dar conta do paradeiro da dupla, a organização decidiu sequestrar um avião. “Exército, Marinha, Dops, polícia, ninguém dava notícias deles”, recorda Galeno. “Estavam ameaçados de morte. O sequestro foi uma maneira de denunciar a prisão deles e exigir que os familiares pudessem vê-los.”
Junto com outros três companheiros, Galeno viajou para Montevidéu. Ali, juntaram-se a um estudante goiano que se exilara na capital uruguaia havia quatro anos. Em 31 de dezembro de 1969, o grupo embarcou num avião Caravelle, da brasileira Cruzeiro do Sul. Fazia a rota Montevidéu-Porto Alegre-São Paulo-Rio. Contando com eles, eram 21 passageiros. Armados, anunciaram o sequestro logo depois da decolagem.
O avião foi desviado para Cuba. Como a autonomia de voo do Caravelle era pequena, fizeram quatro escalas antes de aterrissar em Havana: Argentina, Chile, Peru e Panamá. Em Lima, a aeronave teve de passar por uma manutenção. Sob cerco da polícia peruana, um dos sequestradores concedeu uma entrevista improvisada. A ação obteve repercussão internacional. Segundo Galeno, a ditadura viu-se compelida a admitir que capturara Fausto Freire e Marco Meyer. Estavam vivos.
Duas semanas depois, no alvorecer de 1970, Dilma foi presa em São Paulo. Nada a ver com a ação armada de Montevidéu, diz Galeno. “Na época, não tínhamos contato. Ela não teve qualquer participação no sequestro.”
Nas pegadas da Lei da Anistia, Galeno voltou para o Brasil, em 1979. Dilma já vivia em Porto Alegre. Reaproximou-se dela, dessa vez como amigo. Em 2005, tornou-se assessor de Fernando Pimentel, então prefeito de Belo Horizonte. Visitou Dilma em Brasília depois que ela substituiu José Dirceu na Casa Civil, sob Lula.
Aposentado, Galeno fixou residência em Manágua. Em 2011, voou até Brasília para prestigiar a posse de Dilma na Presidência. De longe, acompanha o desempenho da ex-mulher. “Sou suspeito para dizer isso, mas acho que ela faz um excelente governo.”
No vídeo abaixo, você vê como funcionava a máquina de bisbilhotagem do Dops no Rio Grande do Sul.

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