É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de 'melhor idade'

                                   

É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de “melhor idade”

Não chorei a morte de Meu avó, nem lastimei. Também não fiquei deprimido na Epoca, mas sim, sereno, porque ele teve a morte dos abençoados: morreu Tranquilo como um Passarinho.Que prêmio! - Claro, por merecimento. 

Agora, meu caro leitor vai ficar chocada com o que vou escrever, mas hipocrisia não combina comigo. Detesto quem elogia velhice, tecendo mentiras em torno de uma tragédia. A velhice é o maior castigo que cai sobre a humanidade. E a hora de pagar todos os nossos pecados. É preciso ser muito calhorda para chamar a velhice de “melhor idade”. E não estou me referindo à estética, as rugas, a decadência do corpo, se é gordo, se é magro ou parece um cadáver. Perdemos a fisionomia. Me olho no espelho e penso: quem é essa velho que me encara? São poucos os que escapam da diabetes, do infarto, das terríveis dores reumáticas, da pressão alta, do Alzheimer. É o mapa do inferno!!! Qual velho e lúcido inteligente que não abomina sua condição de arremedo de vida! 

E quando a gente começa a sentir que precisa depender dos outros? - Esse é meu maior pavor!!! O horror quando vou ao médico e a enfermeira começa a me chamar com voz mansinha de queridinha, bonitinha – tudo no diminutivo – e já vou dizendo “sou velho, mas não sou retardada”. E todos os olhares de impaciência quando você demora a abrir a carteira, por exemplo. Ser velho passou a ser xingamento. Por tudo isso, não choro mais quando um companheiro vai embora, volta para casa. Um homem brilhante como João José Roig, culto e sensível, se alguém lhe perguntasse se queria viver, mesmo que doente, tenho certeza que ele escolheria a morte. Voltou para casa, numa viagem em que fechou os olhos e acordou na casa do pai. Ele merecia! Já pensou João José Roig velhinho com problema de próstata usando fraldão?

                                            Pé na bola